quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

«A selva é obscena» - Fitzcarraldo (O diário da rodagem)

 - leitura retomada, às 9 e 15, ...]

IQUITOS, 8.12.80

[...] Dia parado, abafado e húmido. Inactividade junta-se a inactividade, nuvens imóveis fitam-nos, pesadas, do céu, a febre reina, a bicharada prolifera em proporções obscenas. A selva é obscena. Tudo é pecado, e por isso o pecado não dá nas vistas enquanto tal. As vozes na selva estão silenciosas, nada se mexe, paira sobre tudo uma ira indolente, inerte. Não há maneira de a roupa no estendal secar. Como se houvesse um encontro secreto, moscas gordas e reluzentes aglomeram-se sobre a mesa. [...]

                  Werner Herzog, A conquista do Inútil, Tinta-da-china, 2017, pp. 132

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