quarta-feira, 17 de maio de 2023

Sissi-Schneider no «Salão Portugal» + «quinze minutos à belenenses», Vítor Serpa

 - inteiramente lida ontem à tarde, na CUF-DESC., durante as 3 horas do Exame da General, esta Evocação da Infância do menino da «Travessa da Memória» e de entre Belém, Restelo e Ajuda, de 2008, há muito «em Espera»... 

[também se viu, na 2.ª, o Restelo de Manuel Sérgio, na «1.ª Pessoa», de F. C. F.]

RECORTE(S):

[...] Foi assim que me perdi de amores pela Sissi.
     Deparavam-se duas dificuldades decisivas para me atrever a conquistá-la. A primeira, é que ela vivia muito longe da Travessa da Memória, algures num palácio dos arredores de Viena; a segunda é que o filme era para mais velhos e eu ainda andava iniciado, com ajuda da Dona Amália, conhecida da minha avó,  nos filmes para doze.
      Não há nada, porém que um coração apaixonado com onze anos não consiga, e passados dez dias de sublimes ideias a tentar convencer o Gonçalves, velho porteiro, heróico sofredor das pontada da gota, [...] eis que me é oferecida a oportunidade única de uns últimos quinze minutos à belenenses, esgueirando-me pelo reposteiro áspero e estarrecido, [...]e irrompendo, triunfante, embora furtivo, no cimo desse morro alto, que era o primeiro balcão.
    Na minha frente, a deslumbrante visão de Romy Schneider em cinemascope, sorriso rasgado, cabelo de rolos doirados, aqueles olhos bíblicos. [...]

Vítor Serpa, Salão Portugal - Novos Contos da Velha Lisboa, D. Quixote , 2008, pp. 38-39