sexta-feira, 24 de abril de 2020

«Cinemínimo» - M. do Rosário Pedreira

- no verbete de hoje, M. do R. P. explica por que é esta  a sua última crónica - dedicada ao (seu) percurso de espectadora e (à alteração dos) «aos modos de ver» Cinema
RECORTE:
[...] Eu comecei a ver cinema em criança nas férias de Verão, nos Bombeiros do Estoril, ainda com meia sala ao ar livre; os cortes da censura ainda eram visíveis como bainhas mal costuradas, mas toda a gente entrava, independentemente da idade. Foi lá que vi, por exemplo, Blow-Up ou Os Cavalos também Se Abatem com 9 ou 10 anos, embora aos 14, já em Lisboa, a minha mãe me tenha proibido de ir ver Amarcord com rapazes... [...]

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Ir ao Cinema, «pós-Covid»

- 6 horas, o habitual (primeiro) desligar da MÁQ APN
- duas filas, na escadaria para a bilheteira, a lembrar a do S. Jorge, mas mais alta; numa delas está D., sem saber para que filme irá comprar Ingresso [...] 
- grande balcão, em cima do qual está um saco com cerca de três quilos de maçãs, metade «Royal Gala», metade «Bravo Esmolfe», e um pequeno molho de notas de cinco euros [...]
- o vendedor: "Vai ser dois bilhetes, não?"; [em fundo, Cartazes, com imagens da II Guerra Mundial];  D. respondia que era só um, quando uma ventoinha, repentinamente ligada, fez voar as notas em todas as direcções; 
- corre pelo átrio a apanhá-las, sem ajuda de ninguém das Filas; regressa com oito (40 euros); ao mostrá-las ao vendedor, ouve-se os protestos de quem espera, e é informado que estavam 250 Euros (50 notas) no molho [...]
- sonhos «corivídicos»?

sexta-feira, 17 de abril de 2020

«A última sessão» - Dulce Cardoso

[.. é o título do filme de 1970, de Peter Bogdanovich...]; nesta narrativa de 23 - 03, D. M. C. evoca as idas ao Cinema na Luanda da Infância...

RECORTE INICIAL:
    Fazia finalmente parte do grupo das matinés dos mais velhos. É certo que isso acontecera por imposição da minha mãe e não por vontade da minha irmã e dos restantes membros do grupo, mas não me interessava. Ir ao Miramar sem ser atrelada a um adulto causou-me borboletas na barriga, sentia-me livre, ainda que não o soubesse nomear.
       Parámos à entrada, em frente dos cartazes, e o Rui tentou adivinhar a história do filme que íamos ver, Dois Homens e Um Destino. A minha irmã e a Editinha suspiraram pelo Paul Newman, O Robert Redford também é um grande borracho, disse a Anita. O Garrincha e o Nando garantiram a pés juntos que nenhuma mulher sorria como a Katharine Ross. Não conseguia repetir os nomes dos atores e parte das conversas da minha irmã e dos seus amigos era-me incompreensível. Quando o filme começou e me submergiu num mundo tecnicolor, estremeci com o impacto violento do som, a brisa arrepiou-me, o Miramar não tinha paredes e usava o céu como teto, a Baía de Luanda ficava logo atrás do ecrã gigante, havia os jardins em socalcos, era tudo tão diferente, tão maior, tão mais bonito do que o África, o cinema do nosso bairro. Era difícil seguir o enredo, a rapidez com que as legendas se sucediam atrapalhava-me a leitura, estava sempre a perguntar à minha irmã, O que é que eles disseram?, a maior parte das vezes recebia de volta uma cotovelada, Se não te calas nunca mais te trago.
[...]
[Página com as narrativas já publicadas até à data: AQUI]