terça-feira, 27 de agosto de 2024

Cinema, «um divertimento vulgar»

  [alcançada a p. 172, hoje de manhã]

RECORTE(s)

     Quanto ao cinema, os meus pais consideravam-no um divertimento vulgar. Julgavam Charlot demasiado infantil, até para crianças. No entanto, quando um amigo do papá nos arranjou um convite para uma projeção privada, vimos uma manhã, numa sala dos boulevards, L' Ami Fritz; todos concordaram que a fita era deliciosa. Semanas mais tarde, assistimos, nas mesmas condições,  ao Rei da Camargue. O herói, noivo de uma camponesa doce e loira, passeava a cavalo à beira-mar; encontra lá uma cigana nua de olhos faiscantes, que chibateava o seu cavalo; fica embasbacado durante longos momentos; mais tarde, fecha-se com a bela morena num casebre, no meio do pântano. Reparei que a minha mãe e a avó trocavam olhares apavorados ; a sua inquietação acabou por me alertar e adivinhei que aquela história não era para a minha idade. [...]
[sublinhados acrescentados]

Simone de Beauvoir (1908-1986), Memórias de uma menina bem-comportada (1958), 2023, p. 64

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